Evangelho quarto domingo da Páscoa

QUARTO DOMINGO DA PÁSCOA Evangelho segundo São João 10,11-18

"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor a quem pertencem, e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas.  
O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas. 
Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem,  assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas.  
Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 
O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai."

(Correspondente ao Quarto domingo da Páscoa, do ciclo B do Ano litúrgico).

O Bom Pastor é o Ressuscitado

O evangelho que hoje nos é proposto, começa com uma apresentação muito clara de Jesus, João  coloca em seus lábios a seguinte afirmação: "Eu sou o bom Pastor".

Ao dizer eu sou, Jesus se iguala ao Deus libertador do Êxodo que assim se deu a conhecer a Moisés: "Eu sou aquele que sou" (Ex3,14).

Assim com no encontro de Yavé com Moisés no Antigo Testamento, Ele o convida a tirar suas sandálias porque está na sua Presença, o que faz o lugar sagrado, hoje nos somos convidados a despojar-nos  daquilo que não nos deixa acolher com disponibildade a nova presença de Deus em sua palavra.

Cabe-nos perguntar porque no tempo pascal, quando ainda continuamos celebrando a ressurreição de Jesus, Ele se nos apresenta como o bom Pastor?

A carta os Hebreus nos responde: "O Deus da paz, que ressuscitou dos mortos a Jesus nosso Senhor, que é o pastor supremos das ovelhas por ter derramado o sangue da aliança eterna.."(Hb13,20).

Cristo Ressuscitado é o bom pastor,  memória e presença viva do Deus que conduz o povo a libertação de tudo o que o escraviza e atenta contra sua vida. Com ele iniciamos um novo êxodo, um novo e definitivo caminho de liberdade rumo a nossa pátria definitiva, o coração de Deus Pai.

O que cada um, cada uma teria que deixar de lado para viver este novo encontro com o Deus libertador? Estamos dispostos a nos colocar em caminho trás Jesus bom pastor?
No mundo urbano em que vivemos, a maioria de nós tal vez nunca viu um pastor com suas ovelhas, pelo qual é difícil imaginar a alegoria que o evangelista nos relata para nos falar de Jesus.

No Antigo Testamento o título de pastor é dado aos dirigentes do povo, que incluem o rei, os funcionários reais, os anciãos, todos os que têm autoridade. Quase todas as passagens que usam do título censuram os pastores por não enfrentarem suas responsabilidades (Jr 2,8), por descuidar e explorar suas ovelhas, ou seja o povo (Ez 34,2-10).

Mas também Deus promete ao seu povo que lhe dará um pastor segundo seu coração (Jr 3,15).  E o salmo 23 descreve quais são as ações deste pastor: os conduz à sua própria pastagem, restaura as forças, as cuida de todo perigo...Veremos com o Ressuscitado, bom Pastor cumpre plenamente estas palavras.

Os pastores que aparecem no Novo Testamento são pobres e ignorantes, deixados quase totalmente fora da vida social e religiosa. O filho de Davi, o rei que tinha sido pastor, nasceu em Belém, numa caverna que servia de aprisco e a notícia de seu nascimento foi comunicada primeiramente aos pastores.

Há aqui sem dúvida um contraste intencional entre estes pastores e os chefes de judaísmo, "pastores oficiais".

Jesus inaugura uma forma diferente de ser pastor. Amigo dos pequenos, humildes e marginalizados ao ponto de se fazer um com eles, é bom pastor porque dá  a vida por suas ovelhas. No evangelho de hoje quatro vezes o evangelista identifica ao bom pastor como aquele que da a vida.

Porque essa insistência? A vida que Jesus dá não é apenas a vida física, mas a vida de Deus que Ele nos comunica, exatamente ao perder sua vida física por nós! Aqui está o centro do  mistério pascal, a morte do justo é fonte de vida porque Deus faz justiça, o ressuscita!

Desta maneira o bom Pastor, crucificado e ressuscitado,  é fonte de consolo e esperança, para todos os que estão sofrendo, cansados de tanto lutar, é fonte de misericórdia para todos os que estão perdidos e desorientados, é fonte de liberdade para todos os que vivem escravos de mentalidades e estruturas injustas.